A capital do blues em Portugal fica nos Açores
O delta do Mississippi fica a meio oceano de distância, mas, durante três dias, o lugar dos Anjos, na costa norte da ilha de Santa Maria, voltou a transformar-se numa pequena Memphis, em mais uma edição do Santa Maria Blues.

A ilha de Santa Maria tem pouco mais de cinco mil habitantes, ou seja, um bocadinho menos que o público que, durante os três dias de festival, lotou por completo o recinto do Santa Maria Blues, o maior e mais antigo festival de blues em Portugal. “Mal comparado, é quase como se o Nos Alive juntasse mais de um milhão de pessoas à beira Tejo”, diz alguém, enquanto espera na fila para as malassadas (uma espécie de filhós, típica dos Açores).

José Amaral, o diretor artístico do festival, ri-se da comparação, embora tenha noção do verdadeiro milagre que desde há 15 anos ali acontece (esta foi a 16ª edição), no Lugar dos Anjos, no mesmo local onde Cristóvão Colombo colocou pela primeira vez o pé em terra firme, no regresso da primeira viagem às Américas. “Tudo isto é feito com muita alma e coração”, diz José, orgulhoso pela forma como a população da ilha abraçou o projeto: “O sucesso deste festival deve-se muito à hospitalidade e amabilidade da população local, especialmente da família de colaboradores e voluntários que nos ajuda desde o início”, afirma.

Apesar de ser aquilo a que se convencionou um festival de nicho, o ambiente é mais parecido com uma festa de verão, com famílias inteiras, sentadas a comer no restaurante do recinto, onde só são servidos pratos regionais. Mas em vez de se ouvirem os habituais êxitos pimba, ouve-se blues – e todos dançam na mesma. “Temos um público cada vez mais jovem e isso também cria um grande ambiente”, analisa José.

Sem blues, é certo, nada seria igual na música que ouvimos, afinal, não só é o pai do rock, como também o avô, o tio e o primo de quase todos os estilos musicais nascidos no século XX, sejam eles o jazz, a soul ou até mesmo a pop. E é isso que toda esta gente parece celebrar, dançando ao som do piano de Kenny “Blues Boss” Wayne como se estivesse a ouvir o acordeão de Quim Barreiros.

Como já é tradição, o festival começou ao som de um grupo nacional, os portuenses Delta Blues Riders, que em junho representaram Portugal no European Blues Challenge, uma espécie de festival da Eurovisão do blues, realizado este ano em Ponta Delgada, na vizinha ilha de São Miguel, com organização a cargo da equipa do Santa Maria Blues. “Somos amadores a fazer o trabalho de profissionais”, sublinha José com humor.

A verdade é que o Santa Maria em Blues é hoje uma referência até a nível internacional, não só ao nível do cartaz, mas na própria relação que criou com alguns dos maiores festivais de blues da Europa. “Neste momento já há festivais franceses e espanhóis que nos contactam, para contratarmos artistas em conjunto“, conta. Como aconteceu com o guitarrista americano Joe Louis Walker, um músico já por quatro vezes galardoado com o Blues Music Award, que antes de Santa Maria atuou num festival de blues em Madrid.

“Não abdicamos da qualidade dos artistas e de certa forma é isso que nos tem permitido crescer. O nosso portfólio de artistas facilita a contratação de outros. Os músicos conhecem e querem vir ao festival”, sustenta. Foi o caso dos franceses Shaggy Dogs, a banda escolhida para encerrar a segunda noite ao som de um poderoso bluesrock, que, como confessou o vocalista Pascal Redondo ao DN, andou “cinco anos a tentar convencer a organização” a contratá-los.

Mas nem sempre foi assim, quando começaram a organizar o festival, em 2004, o recinto era muito mais pequeno, tal como o palco e muitos dos músicos torciam o nariz. A ideia partiu de um grupo de amigos, “todos eles com alguma ligação ao Lugar dos Anjos”, que aqui decidiram criar um evento “para animar o local”, mas principalmente “promover a economia” de uma ilha em que “tudo está concentrado no mês de agosto”. Quanto à escolha pelos blues, enfim, é explicada da forma mais prosaica: “era a música que todos gostávamos”.

Por ali passam, ao longo de três dias, mais de seis mil pessoas, quase metade vinda de fora da ilha, o que obriga a companhia aérea Sata e a empresa de transportes marítimos Atlantic Line, a reforçar as ligações a Santa Maria durante o fim-de-semana. “Em termos económicos o festival tem um retorno enorme, os hotéis e os restaurantes estão cheios, não há mais carros para alugar e até a marina fica lotada, com gente que vem de barco de São Miguel”, garante António Monteiro, o presidente da Associação Escravos da Cadeinha, que organiza o festival.

Para António Monteiro, responsável do festival, “resta ao Santa Maria Blues continuar a crescer em qualidade”. Embora isso seja algo que não falta, como se comprova pelo alinhamento de luxo do último dia, iniciado ao som do guitarrista australiano Gwyn Ashton, um one-man band do blues rock à antiga, seguido da poderosa cantora americana Annika Chambers, que entre temas próprios e clássicos como Fever ou I Just Want to Make Love to You, ainda arranjou tempo para descer do palco, indo cantar e dançar para o meio do público. Para fechar ficou guardado o nome maior desta edição do Santa Maria Blues, o lendário Kenny “Blues Boss” Wayne, antigo companheiro de estrada dos Sly and Family Stone e considerado um dos reis do boogie-woogie.

Mas nem sempre foi assim, quando começaram a organizar o festival, em 2004, o recinto era muito mais pequeno, tal como o palco e muitos dos músicos torciam o nariz. A ideia partiu de um grupo de amigos, “todos eles com alguma ligação ao Lugar dos Anjos”, que aqui decidiram criar um evento “para animar o local”, mas principalmente “promover a economia” de uma ilha em que “tudo está concentrado no mês de agosto”. Quanto à escolha pelos blues, enfim, é explicada da forma mais prosaica: “era a música que todos gostávamos”.

Por ali passam, ao longo de três dias, mais de seis mil pessoas, quase metade vinda de fora da ilha, o que obriga a companhia aérea Sata e a empresa de transportes marítimos Atlantic Line, a reforçar as ligações a Santa Maria durante o fim-de-semana. “Em termos económicos o festival tem um retorno enorme, os hotéis e os restaurantes estão cheios, não há mais carros para alugar e até a marina fica lotada, com gente que vem de barco de São Miguel”, garante António Monteiro, o presidente da Associação Escravos da Cadeinha, que organiza o festival.

Para António Monteiro, responsável do festival, “resta ao Santa Maria Blues continuar a crescer em qualidade”. Embora isso seja algo que não falta, como se comprova pelo alinhamento de luxo do último dia, iniciado ao som do guitarrista australiano Gwyn Ashton, um one-man band do blues rock à antiga, seguido da poderosa cantora americana Annika Chambers, que entre temas próprios e clássicos como Fever ou I Just Want to Make Love to You, ainda arranjou tempo para descer do palco, indo cantar e dançar para o meio do público. Para fechar ficou guardado o nome maior desta edição do Santa Maria Blues, o lendário Kenny “Blues Boss” Wayne, antigo companheiro de estrada dos Sly and Family Stone e considerado um dos reis do boogie-woogie.

Fonte: Diário de Notícias 
Texto: Miguel Judas
Fotografia: © Paulo Goulart / Hunt Global